sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Onda do mar

És como onda marinha
Que anda ao sabor da maré.
Ora se deita na areia
Ora foge do meu pé.
Eu sou areia na praia
Onde te deitas brejeira
P’ra depois ao mar voltares
Em perpétua brincadeira.
Trazes-me ofertas na espuma,
Tábuas, garrafas, pneus,
Levas-me a quietude
De quem dorme a sete céus.
Viajas pelo mar fora
Por outras praias distantes
Deixando-me na minha praia
Sem a calma que tinha antes.
Voltas numa outra maré,
Grávida de outro oceano,
Eu areia sossegada
Acordo para outro engano.
Estava eu praia sossegada
Escostada a uma rocha
Vens tu onda desalmada
Envolver-me como trouxa,
Embrulhar-me nos teus braços
De branca espuma revolta
Entranhando-te na areia
Deixando-me a vontade solta,
Para depois, minha ingrata,
Sentindo-me por ti molhado
Recuares pró mar alto
Rindo-te como uma gata,
Te esconderes ao desafio
Nas ondas de um navio,
Seguindo na sua esteira
Mar a dentro, terra inteira,
Deixando-me de novo sozinha
Praia de areia molhada
Que fica à tua espera
Dia, noite e madrugada.
És como onda marinha
Que anda ao sabor da maré.
Ora se deita na areia
Ora foge do meu pé.

Christian de La Sallette