sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Injustiças

No pé de uma figueira frondosa
Sentam-se à sombra os amigos,
Uns chamam-na formosa
Os outros papam-lhe os figos.

Na margem de uma ribeira
Que uns chamam maravilha,
Outros arranjam maneira
De beber mesmo sem bilha.

E assim vão andando,
E assim vão vivendo,
Uns as belezas cantando;
Outros as belezas comendo!

Passa-se o mesmo comigo,
Neste mundo imperfeito,
Enquanto me chamas amigo
Outro te afaga o peito.

Vou-te gabando os encantos
E olhas-me embevecida,
Choras em mim os teus pratos
És para o outro comida.

E assim vou andando,
E assim vou vivendo,
Eu tuas belezas cantando;
Outro tuas belezas comendo!

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Espera


Continuo à tua espera
E que o teu sorriso espreite,
Antes que o Sol se apague
 Antes que o amor se deite...
Talvez que ele matreiro
Brinque às escondidas
E se esconda nas esquinas
Das ruas das nossas vidas...
Ou talvez ele se encontre
Escondido num jardim
Onde em tempos o deixámos
Na seta do querubim
A quem chamam de cupido,
Que só a mim trespassou,
Pois de ti nem mesmo um beijo
Nos meus lábios me deixou...
Continuo à tua espera
E que o teu olhar me veja,
Quando as noites são compridas
Quando a luz do sol troveja...
E a luz da tua casa
Que se acende para o outro
O meu coração arrasa
Me enche de vil inveja...
Continuo à tua espera,
De sentir a tua pele
Do teu beijo de Quimera
Do teu amor de papel...
Das tuas mãos de princesa
Acariciando os cabelos,
Da tua falsa pureza
Que não vem aos meus apelos.
Continuo à tua espera
E do teu amor ausente,
Da tua voz sedutora
Do teu corpo de serpente,
Dos teus olhos de medusa
Que enfeitiçam sem dó,
Do teu tronco sem blusa
Esperando-me no pó...