Injustiças
No pé de uma figueira frondosa
Sentam-se à sombra os amigos,
Uns chamam-na formosa
Os outros papam-lhe os figos.
Na margem de uma ribeira
Que uns chamam maravilha,
Outros arranjam maneira
De beber mesmo sem bilha.
E assim vão andando,
E assim vão vivendo,
Uns as belezas cantando;
Outros as belezas comendo!
Passa-se o mesmo comigo,
Neste mundo imperfeito,
Enquanto me chamas amigo
Outro te afaga o peito.
Vou-te gabando os encantos
E olhas-me embevecida,
Choras em mim os teus pratos
És para o outro comida.
E assim vou andando,
E assim vou vivendo,
Eu tuas belezas cantando;
Outro tuas belezas comendo!
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