quinta-feira, 10 de setembro de 2009

NINIFLORA II

A tua casa não tem jardim e por isso não te posso dar flores. Nem tens espaço para baloiços onde brinquem as nossas crianças aos risos e gritos de alegria, cabelos despenteados e fraldas em desalinho. Faces rosadas das correrias não serão vistas fora das areias da tua praia, aquela que estou interdito de visitar.
Não posso deixar presentes à tua porta que logo pensarás que outro tos deu em vez de te lembrares da vergonha deste amor meu, um amor que se esconde nas esquinas dos teus caminhos, como um mirone da tua vida, vendo-te passar sem fazer parte dos teus passos.
Lembro-me todos os aniversários que não posso partilhar contigo, os meus, os dos nossos, o teu… Este aniversário que se esgota em mais um ano. Repara como é irónico festejarmos uma coisa que acaba como se fosse muito importante… só se festeja o aniversário quando ele termina e entramos num outro.
Penso em mil coisas para te dar nos teus múltiplos aniversários, porque eles multiplicam-se nos aniversários dos teus filhos. Nada me parece ser correcto, nada te posso dar que tu realmente queiras. Sinto a frustração de te dar um nada contínuo todos os aniversários. É um nada tão vazio que me entristece; um nada que apenas preenche a solidão da tua ausência ao pé de mim, essa ausência que é presença permanente na minha vida. E apenas te faço lembrar a ausência do outro. Entristece-me não saber mudar o mundo para que ele se molde aos teus sonhos, para que a tua realidade seja a que desejas e não as sobras das realidades dos outros, os restos da realidade de quem desejas quando se digna conceder-tos, em afagos que subtrai à realidade que não larga por ti.
Entristece-me não saber moldar o teu coração para que ele só ame quem te merece e que saiba dar-se todo a ti, sempre que queiras, quando o quiseres. Fico triste por não saber escapar para dentro dos teus sonhos, de os tornar estrelas brilhantes nos teus olhos ao acordares, de os fazer reais como as tuas lágrimas que deixaste de chorar no meu ombro…
Com quem choras tu agora?
Parabéns amor por todos os teus aniversários!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Aniversário III


Perdem-se os meus braços no vazio
De cada vez que se abrem para ti,
Sinto-me rejeitado, cão vadio
Engulo a humilhação que recebi.
Não vês quanto de amor te querem dar
Os meus abraços cheios de ternura?
Não vês que nessa forma de amar
Se esvai um pouco da loucura
Que enche cada passo deste andar,
Vivendo em permanência a tortura
Que é não ter o colo que te cria,
Da forma ensandecida como queria,
O colo que se abre em amizade
Fechando-se, inflexível, à vontade
Que me enlouquece e me fecha nesta ilha?
Não vês que te quero como filha?...

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Dentro e Fora


Fora de mim eu sou livre
Não tenho quem me agarre,
Sou como barco sem âncora
Ou cais que me amarre.
Dentro de mim tu és peso
Que me leva até ao fundo,
Me prende nas tuas redes
Me amarra ao teu mundo.
Fora de mim sou gaivota
Sem medo de sobrevoar
Perdido longe da costa
Ter por companheiro o mar.
Dentro de mim és grilheta
Sala feita de tortura,
Último grão de ampulheta
Da sentença da amargura.
Fora de mim eu existo,
Sou um eu que se liberta
Daquele de quem desisto
Se o teu amor me aperta.
Dentro de mim tu existes,
És presença permanente,
Sentimento que penetra
Todo o buraco da mente.

Christian de La Salette

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Aramis


Finalmente adormeceste!
Findou o teu sofrimento.
Foi tão pouco o que viveste;
Não passou de um momento.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Pain is back!

Olá!...

Diz-me como tens passado,

Está tudo bem do teu lado?

Ou tens andado cansada,

Farta de tudo e de nada?

Tens tido boas lembranças

Das nossas quietas danças?

Tens ouvido as melodias

Das nossas melancolias?


Por onde andas, amor?

Porque não levas a dor,

Que tudo vai consumindo,

Que com desprezo vai rindo,

Deste amar desesperado,

Deste querer em todo o lado,

Somente a ti te encontrar,

Deste insano acordar,

Nas manhãs de agonia

Repetidas cada dia,

Como funesta data

Em que não te ter me mata?


Porque não levas a dor

Que se cola no meu peito,

Porque não vens ao meu leito?

Porque não enches o oco

Esse buraco de louco,

Que me preenche as entranhas?

Porque não trazes contigo

Uma mezinha de amigo

Para tirar esta chaga,

Ferida que me afaga

No lugar do teu carinho?

Christian de La Salette

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Vizinhos


Se morasses no meu bairro
Numa casinha singela
Com canteiros de flores
Pintada de aguarela,
Virias todos os dias
Espreitar-me à janela?
Virias ver-me passar
Como quem vê um cortejo
Do teu príncipe encantado,
Atirando-me com um beijo?
Se morasses no meu bairro
Ou até na mesma rua
Víamos as mesmas estrelas,
Namorávamos à luz da lua?
Teríamos todos os dias,
Todas as horas dos mesmos
Para estarmos bem juntinhos
A comer pão e torresmos,
Ou mastigarmos pipocas
Como quem está no cinema,
A ver um filme romântico
Não importa qual o tema.
Andávamos na brincadeira,
Começando de manhã,
Fingias-te enfermeira,
Eu papá e tu mamã.
Só parávamos à noitinha
Cansados de tanto brincar
Olhos brilhantes e rindo,
Um e outro, um só par…

Christian de la Salette