terça-feira, 13 de abril de 2021



Não posso perder as correntes que prendem o choro, porque os rios transbordam com  a falta de abertura das comportas que comportam o sentimento incomportável, separadas pelas margens de um oceano insensível às feridas que provoca nas marés. Não ponho os pés na areia sem lembrança de que cada grão de areia da praia está milionarmente ligado aos outros que vão até à tua praia, onde o mesmo mar toca os nossos pés separados por quilómetros de tristeza. (tristeza que é só minha)! Se perco as correntes do choro, rebentam os diques dos olhos que já não veem senão o passado que desapareceu, sem esperança de que se sebastianize. Somos um gota de vento num sopro da nuvem, revoluteando na insensibilidade do suceder dos dias, gotejando em paralelo infinito numa intercessão impossível. Foi ontem que os nossos destinos se perpendicularizaram e só se cruzaram na origem, sem função afim ou ponto de coordenada comum. Não me tornei abcissa a que correponda a tua ordenada.

Sorrio! As correntes do choro prendem-se com sorrisos, ainda que forçados, alguns tão frágeis que permitem que ele se liberte e se lance em torrente. O caminho do choro não é um arroio suave! É uma corrida de rafting embatendo em rochas pontiagudas, em paus aguçados, em pedras submersas, num bote insuflado pela desilusão, material que nunca fura nem rasga, como as rodas sólidas de um triciclo onde pedalámos os nossos sonhos em criança.

Quando nos cruzámos, imaginámos traçar duas retas sobrepostas, como se formassem uma só, tão ingénuos como os quadros pintados nas creches e primárias, mas para issso era necessário que viajássemos à mesma velocidade-luz, que, segundo dizem, é aquela que mede o tempo em que Sol demora a iluminar o teu rosto, na primeira vez que ele me deixou contemplá-lo. Porém eu viajava um nanosegundo desencontrado e perdi-me na imensidão inexata do Universo futuro que pretendia coabitar contigo.

Quando sorrio finjo que não choro!

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