quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Para quê, Nini?

Para quê chorar se as minhas lágrimas não correm nos teus rios?; para quê gritar se os meus ecos se perdem nos teus vazios?; para quê sofrer se não podes curar meus desvarios?; para quê sonhar se os meus sonhos são levados pelos desvios?...
Para quê esperar-te noite e dia sem sentido?; para quê desejar-te se não respondes ao meu pedido?; para quê procurar-te se me sentir sempre perdido?; para quê amar-te se não for correspondido?...
Para quê chorar?
Perdem-se muitas lágrimas no precipício dos dias, caem desamparadas no rosto da tua ausência, esgota-me a paciência de te esperar e não vires. Choram as músicas que partilhámos porque agora não as ouves e perdem-se solitárias nos meus ouvidos, na recordação das emoções que vivíamos juntos quando fechávamos os olhos e deixávamos que a sua melodia nos levasse nos seus braços, em direcção ao único sítio onde existíamos os dois enquanto o tempo corria esquecido de nós, e assim ficávamos, amantes ao luar do meio dia, abraçados em sentimentos fugazmente partilhados. Não te lembras?
Para quê gritar?
Só tu é que não ouves os meus gritos quando é por ti que grito, só tu é que desapareces no silêncio que me mostras de vez em quando, e eu perco-me na cidade gritando em todo o lado por ti, em todos os lados onde sentia a tua presença. Não me respondes porque é só isso que me sabes responder… a mudez do nada.
Para quê sofrer?
Às vezes os meus caminhos passam na tua porta, as minhas estradas levam-me ao teu lar; não ouso bater ou entrar. Fico na escuridão da noite deste Outono/Inverno olhando a tua silhueta movimentando-se de um lado para outro à contraluz. Breve me afasto para que não me vejas ou sintas, para que não me vejam e acusem, querendo que me visses e sentisses, querendo que me vissem e te acusassem a minha presença. E sinto ciúmes desse espaço onde não habito, desse lar onde não pertenço, de todos os móveis e adereços que recebem o teu toque e cuidados. Às vezes gostava de ser uma peça de mobília em tua casa: um sofá para te sentares; um bibelot para limpares suavemente o pó como quem faz uma carícia; um espelho onde te mirares envolta em toalha de banho ou mesmo sem ela; uma cama para te deitares; uma almofada para chorares…
Para quê sonhar?
Os sonhos podem ser cruéis quando não sobrevivem à noite, ao sono, podem criar ilusões que se desfazem à luz do dia, como grãos de areia esvaindo-se por entre os dedos até que apenas restem uns quantos que se tornam desagradáveis e queremos tirar a todo custo das nossas mãos porque nos incomodam; os sonhos podem ser belos quando se realizam no coração de quem se ama apesar do sono se ter ido embora, se ficarem e não se partirem em pedaços quando a manhã nos acorda, se crescerem e não se perderem cada vez que abrem os olhos…
Para quê esperar?
De cada vez que desapareces deixas-te ficar fechada na minha vontade de não te deixar ir, apesar de ires quando mais preciso de ti, quando mais insuportável se torna a vontade de te ter ao pé de mim. Abandonas-me de cada vez que te espero sem to dizer, de cada vez que procuro ver-te e não consigo, de cada vez que os meus olhos te dizem o que a minha boca cala. Foges-me cada vez que te recordo, cada vez que em ti penso e tu não estás aqui…
Para quê desejar?
Quanto mais cresce o meu desejo mais insuportável se torna, mais me enlouquece a vontade de te abraçar, de sentir o teu corpo no meu, de te tocar, de te cheirar, de te beijar, de te acariciar com sofreguidão, de te apertar. Nascem-me ciúmes de todos a quem te dás, daquele a quem te dás; enraivece-me a impotência de ocupar o lugar dele, de não ser eu quem te toca a tua pele e sente o calor que ela emana, de não ser por mim que se eriçam os teus pelos, de não ser a mim que tu te entregas…
Para quê procurar?
Hei-de-me perder sempre na tua busca, nos ermos em que se transforma a minha existência quando a tua luz não me guia. É um buscar sem fim porque nunca me deixas encontrar-te, porque não queres que eu te encontre, porque não é a mim que queres encontrar…
Para quê amar?
Porque nem é amar este somatório de queixumes, de desencontros, de prostração de joelhos em que me humilho, neste contínuo chorar por um amor teu, uma migalha do amor que dás ao outro, quando eu é que não soube guardar-te, me encolhi na comodidade da minha vida enganada, te prometi o que não podia dar-te, te acusei de me fazeres sofrer, e corria sem pensar ao teu encontro sabendo-te triste tentando alegrar-te com a minha tristeza. Às vezes sou tão patético!…
Só às vezes?!!!
C. L.

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