segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Momentos das palavras




Há momentos em que as palavras perdem o sentido porque se tornam inócuas perante o sofrimento daqueles que amamos. Dizemos que tudo correrá bem e colocamos nessas palavras o peso do desejo de que elas se concretizem. Mas não há palavras que substituam um abraço de aconchego, de consolo, quando dele estamos necessitados. Não há palavras que concretizem as nossas preces e orações; apenas palavras que expressam a nossa impotência perante a dor e sofrimento dos que nos são próximos. São momentos de sofrimento que nos deixam sem as palavras. Só podemos partilhar o silêncio e em silêncio sofrermos também.
Há outros momentos que nos roubam o resto das palavras. Substituem-se por novelos de soluços que se engasgam dentro de nós ou se desfazem em lágrimas ininterruptas que teimam em nos molhar as faces, independentes das nossas vontades, impossíveis de serem contidas na caixa dos sofrimentos que vamos enchendo ao longo da vida. São momentos de perda de alguém que amamos e nossa perda também. Julgamos esse sofrimento insuportável e interminável e por isso esquecemo-nos das palavras que o façam parar. Também não existem. É um sofrimento tão atroz que nos sufoca e provoca um aperto no peito ao ponto de quase o sentirmos rebentar, tirando-nos o ar e a vontade de continuar, como se tudo fosse um pesadelo do qual nunca iremos acordar. E as lágrimas que teimam em cair não conseguem diluir a bola de dor que se formou cá dentro.
Perder quem amamos leva consigo um pedaço de nós.
Também perdemos pessoas ainda vivas…

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