segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Alívio


Deixa as tuas mágoas sentarem-se a meu lado,
Repousa no meu regaço as tuas dores,
Aninha no meu colo o teu fado
Desabafa em mim os teus temores.
Deixa-me ser meirinho confidente,
Um ombro amigo p’ra poderes chorar,
O teu coração se alegre de contente
Cada vez que ele me encontrar.
Deixa-me ser teu rio, brandas margens,
Murmúrios de água inquieta a sussurrar,
Vento que vem de outras paragens,
Roçando a tua face a afagar.
Deixa-me ser seixo pequenino,
Pedra que atiras para um lago,
Fazendo um pequeno remoinho,
Sugando-te as tristezas de um só trago.
Deixa-me ser serena realidade,
Cada vez que a tua vida se turvar,
Pequeno momento de amor e liberdade,
Ancoradouro das lágrimas do teu mar.
Faz de mim privado contentor,
De problemas, medos, incertezas,
Coloca em mim toda a tua dor,
Despeja-me todas as tuas impurezas.
Quero ser sol que no Inverno te aqueça,
Amena Primavera a começar,
Uma nova vida que não padeça,
Dos defeitos da outra que acabar.
Molha as minhas mãos com o orvalho,
Que dos teus olhos teima em sair,
Que a esperança encontre em mim atalho
Se ao teu encontro ela quiser vir.
Que nada te perturbe ou aflija,
Sempre que quiseres estar comigo,
Serei em teu caminho torre rija,
E a todas as aflições darei castigo.
Serei implacável, mesmo duro,
Nada me demoverá dos meus intentos,
Defender-te-ei como um muro,
Barreira instransponível de unguentos.
Vem ter comigo sarar as tuas feridas,
Limpar-te de toda a sujidade,
Só te darei/direi palavras queridas,
Esconderei de ti a má verdade.
Senta-te tu também, aqui ao lado,
Guardei este lugar à tua espera,
Tenho-o, há tanto tempo, p’ra ti guardado,
Que quase não sabia p’ra quem era.

Christian de la Salette

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