sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Mais um dia


Choras?!... Libertas as tuas dores em lágrimas que correm sem destino na tua face, perdendo-se esquecidas nas tarefas de todos os dias.

Olhaste para trás de olhos fechados e viste-te menina, cheia de sonhos que hoje estão inalcançados. Viste a tua sombra passar diante de ti e com ela levar as tuas ilusões. Não fossem os teus filhos e sentir-te-ias vazia, corpo animado sem vontade.

Levantas-te todos os dias e juntas os pedaços que os homens espalharam de ti, como se fosses boneca de trapos, marioneta comandada no seu desejo, restando aqui e ali uma leve recordação de um beijo e a mágoa das promessas não cumpridas. Esperam-te novas ilusões no teu caderno diário e tu sabe-lo. Sentes os dias perdidos em busca de uma felicidade que nunca surge e interrogas-te: Será sempre assim?

Choras!

Encostas a cara na almofada dos dias em que não dormes para que não vejam o rio de tristeza que se escapa dos teus olhos. Choro de raiva desiludida por descobrires que afinal os homens são todos iguais. Pedreiros... Pedreiros de gravata e de falinhas mansas, hienas disputando a carniça dos outros, porque é como carniça que te sentes.

Ah, quanto não davas por um momento de compreensão mundana?! Quanto não davas por alguém que olhasse para ti e reparasse na criança aninhada que em ti vive e soubesse falar-lhe de segurança, de sonhos realizáveis, de príncipes reais que surgem na vida real. De alguém que te libertasse das contas de todos os dias e te permitisse voar para onde te levam os desejos, para longe!... Principalmente para longe... Até onde não houvesse nada que te magoasse, onde todos fossem transparentes, homens, mulheres, amigos ou só conhecidos. Um sítio diferente deste em que todos vivem dissimulados, lobos em pele de cordeiros, sapos...

Choras. Mesmo que não te veja as lágrimas sinto-as de cada vez que os teus olhos se perdem no horizonte do tempo já passado, esse tempo que te trouxe a este presente pesado. Um passado de fardos e um presente de desenganos. Um presente que não é presente mas antes castigo. Punição que não mereces por pecados que nunca cometeste, ou será pecado sonhar em ser feliz?

Para onde quer que olhes os teus olhos marejam-se de lágrimas e sofres em silêncio, às vezes com fome... Uma fome física de coisas a que tens direito e a realidade te rouba em todos os momentos. Sentes vontade de vomitar as tuas mágoas no rosto do mundo que não tem rosto, de gritar: eu ainda estou viva! Mas só te ouve a escória de homens animais, que se babam de desejo e te atiram palavras despidas, nuas de pudor.

Haverá esperança?!

Limpas as lágrimas como fazes todos os dias desde há tanto tempo que já te esqueceste quando começou.

Levantas-te. Hoje é mais um dia!

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