sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Niniflora


Nasce uma flor em cada dia,
Diferente na fragrância, no perfume,
Aroma que tão breve me inebria,
Odor que me desperta o ciúme.
Abre-se completa a todo o vento,
Ondula sob as brisas mais ligeiras,
Insinua-se em suave movimento,
Roça-me com suas pétalas brejeiras.
Atrai-me ao seu pólen como insecto,
Afasto-me sem contudo me afastar,
Transforma-me num mero objecto,
Cada vez que a atrevo contemplar.
Desejo ser jarra bem garrida,
Poder em mim seu caule abraçar,
A luz que a abre para a vida,
A terra para seu corpo alimentar.

Nasce uma flor a cada hora,
Diferente na textura e na cor,
Criando uma tontura que devora,
Tudo o que rodopia em seu redor.
Pisam essa flor, os ignorantes,
Da dor que lhe provocam sem remorso,
Roubam-lhe os seus belos instantes,
Colhem o seu pólen sem esforço.
Roubam-me essa flor sem tal saberem,
Ignoram que ela é minha, sem o ser,
Tiram-ma sem sequer se aperceberem,
Que fico muito mais perto de morrer.

Christian de La Salette