Momentos das palavras
Há momentos em
que as palavras perdem o sentido porque se tornam inócuas perante o sofrimento
daqueles que amamos. Dizemos que tudo correrá bem e colocamos nessas palavras o
peso do desejo de que elas se concretizem. Mas não há palavras que substituam
um abraço de aconchego, de consolo, quando dele estamos necessitados. Não há
palavras que concretizem as nossas preces e orações; apenas palavras que
expressam a nossa impotência perante a dor e sofrimento dos que nos são
próximos. São momentos de sofrimento que nos deixam sem as palavras. Só podemos
partilhar o silêncio e em silêncio sofrermos também.
Há outros
momentos que nos roubam o resto das palavras. Substituem-se por novelos de soluços
que se engasgam dentro de nós ou se desfazem em lágrimas ininterruptas que
teimam em nos molhar as faces, independentes das nossas vontades, impossíveis
de serem contidas na caixa dos sofrimentos que vamos enchendo ao longo da vida.
São momentos de perda de alguém que amamos e nossa perda também. Julgamos esse
sofrimento insuportável e interminável e por isso esquecemo-nos das palavras
que o façam parar. Também não existem. É um sofrimento tão atroz que nos sufoca
e provoca um aperto no peito ao ponto de quase o sentirmos rebentar,
tirando-nos o ar e a vontade de continuar, como se tudo fosse um pesadelo do
qual nunca iremos acordar. E as lágrimas que teimam em cair não conseguem
diluir a bola de dor que se formou cá dentro.
Perder quem
amamos leva consigo um pedaço de nós.
Também
perdemos pessoas ainda vivas…