quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Enorme ambição


Tenho uma enorme ambição
De te ter só para mim,
De roubar teu coração
Escondê-lo no jardim
Atrás de um caramanchão
No canteiro do jasmim.

É um desejo torrente
Que me invade por completo,
Como uma forte corrente
Que me arrasta o teu afeto,
Despojando-me do presente
Deixando o corpo sem teto.

É um desejo tempestade
Como chuva incessante,
Que alaga a minha vontade,
Põe o intelecto distante,
Que nem parece verdade
Viver sem ti um instante.

Às vezes até me pergunto
Se eu existo sem ti,
Pois és meu único assunto,
Quem me faz manter aqui,
Sentindo que não estás junto.
Por que é que não desisti?

Talvez que a esperança
Seja a última a morrer,
Ou então sou tão criança
Que só sei assim viver,
Iludido de que a distância
Entre nós vai desaparecer.

Mas sabes, és tu que alimentas
A fome que ataca os meus dias,
De tal forma que aumentas
As tristezas ou alegrias.
Só tu é que apascentas
Meu rebanho dos segundos,
E ligas com filigrana

A fronteira dos meus mundos.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Calo-me ao teu silêncio



Calo-me ao teu silêncio que me diz tudo o que não quero ouvir e em mim nascem outros silêncios que me dizem o que quero que sintas. Olhas-me com o mesmo desinteresse com que passas os teus dias uns atrás dos outros; uma sequência de existir sem questionar o sentido de ser ou os sacrifícios que tens de fazer para que eles não se interrompam. Deixas-le levar. Perdes a paixão nalgum sítio ondes não a encontras como quem perde as coisas que não são usadas e das quais só nos lembramos delas de tempos a tempos e apenas as mudamos de lugar. Talvez sejam um estorvo. Estamos tão habituados a ver a utilidade das coisas que esquecemos a sua magia, aquilo que as torna diferentes das outras. Não há paixões iguais, apenas palavras iguais para dizermos coisas que não entendemos ou que não conseguimos exprimir por palavras o que nos fazem sentir. Eu não sou capaz de arranjar um sinónimo de palavras que expliquem o prazer de um beijo teu, de experimentar o toque da tua pele, de transmitir o frémito que me percorre de cada vez que te imagino entregue à minha paixão. E por isso me calo! O teu corpo é silêncio. No teu olhar há silêncio. Continuo a amar-te apesar disso. Continuo a esperar-te apesar disso. Continuo... A nossa vida é uma sucessão de continuidades; um dia continua o outro; um sacrifício continua outro. Alegrias também são continuidades; as pequenas e as grandes. Só a paixão é pausa, um intervalo que o tempo nos dá para que possamos regressar às rotinas das continuidades, revigorados na ilusão de que a pausa é o tempo inteiro.
Onde é que fiquei na tua vida? Onde é que estou? Onde me guardas tu?
 Ainda te sou útil?

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Na tua lágrima




Abracei...
Os dias que tivemos,
As horas que passámos,
Os corpos sendo um par.
E beijei...
Senti teus lábios ternos,
Varrendo os meus invernos
Somente com o olhar.
E pensei...
Se o tempo recuasse,
Talvez eu te encontrasse
Sem outros p'ra trocar.

Na tua lágrima
Há tanto choro meu
Como pássaros há no céu.

Partilhei...
Fui teu por poucas horas,
Mas não sou por quem choras
Nas noites sem luar.
E calei...
A dor que me criaste,
Dos braços em que entraste
Deixando-me sem ar.
Desejei...
És minha nos desejos,
São de outro os teus beijos
Os meus ficam por dar.

Na tua lágrima
Há tanto sal que é meu
Como o sal que o mar perdeu.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Palermices





A brisa do tempo passa,
Ouvem-se ais e lamentos
Que o sismo da vida desgraça,
Torna maus os bons momentos.
À noite o silêncio troveja,
Ribomba nos meus pensamentos
O vento no sino da igreja
Dá-me tristes sentimentos.
Não há acalmia no mar,
Ondas só de tormentos,
E se o pôr-do-sol acalmar
É para ter teus beijos lentos.
Se a terra tremer com tais beijos
Nos teus braços me seguro,
Deixa a chuva cair dos meus olhos,
Só assim eu me depuro.
Não há ventania tão forte
Que de mim a ti te afaste;
Serás fortuna ou má sorte?
Serei teu brinde ou teu traste?
De que mal é que padeço
Se não te tiro da ideia?
Obrigo-me, mas não me obedeço,
Não me arranjo panaceia.
Sou tão parvo, tão palerma!
Não tenho o tino total.
Só me resta a taberna
Para afogar o meu mal.