quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Manequim




Faço tudo p’ra agradar
Os teus olhos de Medusa,
Dizes-me o que vou  usar?
Qual a roupa que se usa?
Meu bigode vou cortar
À moda do Errol Flynn,
Achas que devo mudar?
Ou gostas de mim assim?
Ponho lentes de contato
Pinto os cabelos de louro,
Visto o meu melhor fato,
Nos dedos um anel de ouro.
Uso perfume Hugo Boss,
Sapatos do Valentino,
E p’ra não ficar com tosse
Um cachecol todo fino.
Corto unhas e sobrancelhas,
Ponho brinco a condizer,
Corto os pelos das orelhas
E mais o que houver de ser.
Até a roupa interior
Será o que dita a moda,
Faço o que for melhor
Já tenho a cabeça à roda.
Lenço no bolso a sair,
Relógio de ouro a brilhar,
Mas sei que me vais pedir
Para as meias não tirar.

sábado, 22 de novembro de 2014

Amor autista




O meu amor é autista,
Fechado no seu próprio mundo,
Escondido bem no fundo,
Nada dele está à vista.
Tem tiques de tresloucado,
Espasmos sem ter razão,
Ora se entrega à paixão,
Ora em si está fechado.
Tem dias que é simpatia,
Outros tem que é distração,
Nalguns canta uma canção,
Noutros triste melodia.
O meu amor é autista,
Da sua sombra tem medo,
Só tu sabes o segredo
P'ra fazer dele um artista.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Poder amar-te




Poder amar-te
É como amar o sol
Nas dunas do pensamento,
Passear à beira praia
De mãos dadas com o vento;
É sorrir da fantasia,
Almoçar a alegria
De tocar o firmamento.
É fazer do céu morada,
Ser a noite namorada,
E as pedras da calçada
Testemunhas do momento.
É ver crianças brincando
No regaço da magia,
É beijar-te até ser dia
Do eterno chamamento.
É fazer das nuvens cama
Em lençóis de filigrana,
Rodopiarmos na lama,
Como pião no cimento.
É beber água da chuva,
Partilhar um bago de uva
Como se fosse um tesouro,
Ter mais valor que o ouro
Um abraço junto ao peito,
Valer mais que a platina
Ter-te sempre na retina.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Sem palavras




Deixa-me sem palavras
O teu silêncio mudo,
Esse calar sisudo
Em tudo o que te escrevo.
Sabes o que digo
No que te deixo escrito:
É o amor que grito
Sentindo-o em perigo.
É esse amor perdido
No teu silêncio deserto,
Na aridez que faz perto
A dor solta em gemido.
É cada verso ferido
Pela pena que o escreve,
Sentindo que não te serve,
Sentindo não ser sentido.
São estas lamúrias poema
Que teimo em te escrever,
É a dor de não te ter,
Sentir só te fazer pena.
Deixa-me sem palavras
Esta vetusta paixão,
Que apesar da rejeição
Cria em mim ideias parvas.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Esquece




Esquece o que eu digo,
Esquece o que faço,
Não esqueças, porém,
Que por ti me desfaço.
Esquece o que peço,
Esquece o que imploro,
Não esqueças, porém,
Que é por ti que eu choro.
Esquece o que falo,
Esquece o que canto,
Não esqueças, porém,
Que é por ti o meu pranto.
Esquece o meu rosto,
Esquece o que peço,
Não esqueças, porém,
Que é por ti que pereço.
Esquece as lamúrias,
Esquece que eu chamo,
Não esqueças, porém,
Que és tu quem eu  amo.