quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Se eu não te amasse tanto assim



Meu coração
Sem direcção
Voando só por voar
Sem saber onde chegar
Sonhando em te encontrar
E as estrelas
Que hoje eu descobri
No seu olhar
As estrelas vão-me guiar
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez não visse flores
Por onde eu vi
Dentro do meu coração
Hoje eu sei
Eu te amei
No vento de um temporal
Mas fui mais
Muito além
Do tempo do vendaval
Dos desejos de um beijo
Que eu jamais provei igual
E as estrelas dão um sinal
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez não visse flores
Por onde eu vim
Dentro do meu coração.
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez não visse flores
Por onde eu vim
Dentro do meu coração

Poema de Ivete Sangalo

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Vício


És como o primeiro cigarro
Vício inicial de adolescente,
Misto de prazer agoniado,
Enjoo e tontura entorpecente.
És condensado e nicotina,
Dose inalada de alcatrão,
Que me inebria a mente e me domina,
Boneco articulado em tua mão.
És como vinho novo ou aguardente,
Copo de cerveja à pressão,
Que me embriaga e embota os sentidos,
Que me levanta e logo atira ao chão.
És haxixe, erva, marijuana,
Mary Jane, pedra, chá, cavalo,
Droga entranhada no meu corpo,
Lapa que não quer abandoná-lo.
És a cocaína injectada,
Seringa de heroína cavalar,
Que me tira todas as certezas,
E coloca o desconhecido em seu lugar.
És anfetaminas, barbitúricos,
Whisky, vodka, rum, ou a tequilha,
Que se mistura em shots inocentes,
Prazer que se revela armadilha.
Dás-me sensações já esquecidas,
Fazes-me imaginar as ilusões,
Prometes felicidade em neblinas,
Logo te esfumas noutras confusões.
És o meu vício, droga, ou bebida,
Tudo o que não devo consumir,
Porém, sem ti não faz sentido a vida,
Só tu me fazes louco a sorrir.

Christian de La Sallette, Janeiro 03, 2007

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Onda do mar

És como onda marinha
Que anda ao sabor da maré.
Ora se deita na areia
Ora foge do meu pé.
Eu sou areia na praia
Onde te deitas brejeira
P’ra depois ao mar voltares
Em perpétua brincadeira.
Trazes-me ofertas na espuma,
Tábuas, garrafas, pneus,
Levas-me a quietude
De quem dorme a sete céus.
Viajas pelo mar fora
Por outras praias distantes
Deixando-me na minha praia
Sem a calma que tinha antes.
Voltas numa outra maré,
Grávida de outro oceano,
Eu areia sossegada
Acordo para outro engano.
Estava eu praia sossegada
Escostada a uma rocha
Vens tu onda desalmada
Envolver-me como trouxa,
Embrulhar-me nos teus braços
De branca espuma revolta
Entranhando-te na areia
Deixando-me a vontade solta,
Para depois, minha ingrata,
Sentindo-me por ti molhado
Recuares pró mar alto
Rindo-te como uma gata,
Te esconderes ao desafio
Nas ondas de um navio,
Seguindo na sua esteira
Mar a dentro, terra inteira,
Deixando-me de novo sozinha
Praia de areia molhada
Que fica à tua espera
Dia, noite e madrugada.
És como onda marinha
Que anda ao sabor da maré.
Ora se deita na areia
Ora foge do meu pé.

Christian de La Sallette

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Usurpação

Entraste dentro de mim abruptamente,
Invadiste o meu espaço intimamente,
Ocupaste-me todo o corpo, até a mente,
Usucapiaste-me por usufruto permanente.
Apropriaste-me como se fosse coisa tua,
Tiraste-me toda a minha propriedade,
Já nada de meu tenho, roubaste-me a lua,
E até me tiraste a liberdade.
Acompanhas-me para todos os lugares,
Deitas-te comigo, todos os dias, no meu leito,
Entras nos meus sonhos sem sonhares,
Tens sobre mim domínio perfeito.
Sou um fantoche que colocas no teu dedo,
Marioneta que se move ao teu desejo,
Condenaste o meu arbítrio ao degredo,
À minha vontade deste ordem de despejo.
Sou-te assim como um boneco de crianças,
A quem arrancas braços, cabeça, tronco e pernas,
Despes-me e vestes-me e disso não te cansas,
Bates-me de má e dás carícias ternas.
És tão dona de mim que já não sei,
Se é verdadeira a minha existência,
Ou se apenas vivo num mundo que inventei,
Se apenas existo na tua consciência.
Duvido-me de mim, serei alguém?
Terei corpo palpável, serei presente?
Ou sou mais um no meio de ninguém,
Corpo que se move por entre um mar de gente?
És tu quem conduz o meu destino,
És tu quem me dita o caminho,
És tu que me fazes sentir menino,
Quando te vais sem me deixar sozinho.
Usucapiaste-me por usufruto permanente,
Entraste dentro de mim abruptamente,
Invadiste o meu espaço intimamente,
Ocupaste-me todo o corpo, até a mente.

Christian de La Sallette

quarta-feira, 20 de junho de 2007

OFFSHORE

Vem madrugada de mansas vilanias,
Vender o teu poder ao meu vencido,
P’ra lá de tudo vem que estou perdido,
Traz-me o fulgor da vitória de outros dias.
Faz de mim funâmbulo artista,
Envolto em plúmbea fulgurância,
Que na tua corda inventarei distância,
Da vida plangente de fadista.
Oh! Vem qual fada ou primavera,
Tirar-me do sonambúlico degredo,
Roubar-me ao papão e o meu medo,
Pois quando fui criança não o era!
Vem!, por quanto a tua vinda é desejada,
Secar o pranto azul deste oceano,
Onde erro dia a dia, ano após ano,
Sabendo que no fim tudo foi nada!

Christian de la Salette

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Derrota


Deixa-me só esta noite,
Escapa-te da minha mente,
Torna-te inexistente,
Que estou cansado de sofrer.
Deixa-me só este dia,
Para ver se esta agonia,
Sai de vez da minha vida,
Que anda confusa, perdida,
Sem saber o que fazer.
Volta atrás no pensamento
Num regresso temporal,
Deixa-me naquele tempo,
Onde não me fazias mal,
Onde tudo era diferente,
Noite e dia sempre igual,
Onde tudo era contente,
Por não te saber real.
Regressa à tua infância,
Tenta mudar o destino,
Tenta guardar a distância,
Não te cruzes mo meu caminho,
Que é tão triste a minha vida,
Cada vez que eu te lembro,
Cada vez que me despertas,
Para mais um dia ausente,
Como chuva de Setembro
A findar um Verão quente.
Pede àquele que te guia,
Para ter muita atenção,
Há caminhos que te levam,
Para a minha perdição,
Caminhos que os duendes,
Como diabretes que são,
Vão enfeitando com flores,
Tão perfumadas que estão,
Te enganam os meus sentidos,
Me dão a tua paixão,
Puro engano dos bandidos,
É apenas ilusão.
Deixa-me só nesta vida,
Finge que nunca exististe,
Estou cansado e perdido,
Apaixonado mas triste,
De cada vez que te encontro,
Nestas palavras escritas,
Rejubilo por momentos,
Ao ler os teus pensamentos,
Mas depois, quando regresso,
De volta à realidade,
Vejo-te desaparecida,
Só a dor é de verdade.

Christian de La Sallette

Permissão

Abre as portas do teu mundo,
As tuas janelas de par em par,
Nem que seja por um segundo
Dá-me permissão para entrar.
Abre-me o teu pensamento,
Dá-me espaço no teu olhar,
Deixa-me por um momento
Os teus sonhos povoar.
Abre um sorriso nos lábios,
Cada vez que no teu lembrar,
Esqueces conselhos sábios,
És tentada a pecar.
Coloca-me nas tuas estantes,
Como se fosse um troféu,
Deixa-me pensar por instantes
Que além de mim só o céu.
Deixa-me entrar em alegria,
E aninhar-me ao teu colo,
Nem que seja por um dia
Quero ser creme do teu bolo.
Abre-me a tua vida,
Escancara o coração,
Recebe-me esbaforida,
Entrega-me a tua paixão.
Tudo o que alcance o olhar,
No teu horizonte visual
Te peça para eu entrar
No teu espaço carnal.
Abre-te de corpo e alma,
Entrega-te a mim totalmente,
Encontra em mim a calma
Da tempestade iminente.
Não te feches de repente,
Abre-te sem vacilar,
Nem que seja eternamente
Dá-me permissão de te amar.

Christian de La Sallette

Ciúme


Nascem em mim sentimentos negativos,
Ódios, invejas, desespero e sofrimento,
Nascem-me desejos imperativos
De te amar sem o teu consentimento.
Arde um fogo imenso no meu peito,
Alastra-se uma dor intensa de ciúmes,
Saber que outro dorme no teu leito,
Respira sem pudor os teus perfumes.
Dói-me saber-te tocada por outros dedos
Beijada por outros lábios indecentes,
Mas o maior de todos os meus medos
É que os teus olhos se fechem de contentes.
Dói-me essa traição legitimada,
Por mero compromisso anelar,
Mesmo que ele te represente nada,
Tem sempre o privilégio de te amar.
Dói-me esta angústia dos momentos
Em que te imagino nua a seu lado,
Teu corpo, gemidos e lamentos
A ele se entregando sem pecado.
Dói-me não te ter só para mim,
Magoa-me a inveja de seres dele,
Do seu desamor e mesmo assim,
Deixares que te toque a tua pele.
Doem-me os fluidos que partilhas,
Essa tua entrega/rendição total,
Dói-me não serem minhas as tuas filhas,
Sacrificares-te por dever matrimonial.
Nascem em mim sentimentos negativos,
Ódios, invejas, desespero e sofrimento,
Nascem-me desejos imperativos
De te amar sem o teu consentimento.
Dói-me não te ter ao anoitecer,
Quando as luzes do dia se extinguem,
Dizendo-me querendo receber,
A semente que carrega a minha origem.
Dói-me não te ter de madrugada,
Deitada a meu lado adormecida,
Amante satisfeita e regalada,
Fera domesticada e rendida.
Dói-me este destino tão irónico,
Que cruel me destrói e me definha,
Por ter somente teu amor platónico
Possuir-te sem nunca seres minha.

Christian de La Sallette