quinta-feira, 30 de outubro de 2014

UHU




Abre os teus braços p’ra mim,
Abre p’ra mim teu regaço,
E se os dias me partirem,
Cola-me cada pedaço.
Entrega o teu corpo p’ra mim,
Entrega p’ra mim teus desejos,
E se os dias me partirem,
Cola-me com os teus beijos.
Afaga-me com os teus braços,
Afoga-me nos teus gemidos,
E se os dias me partirem,
Cola-me os cacos partidos.
Faz-me carícias de afeto,
Quando a vida for mais dura,
E se os dias me partirem,
Cola-me com a tua ternura.
Afasta-me os ventos mais fortes,
Derrota em ti meu cansaço,
E quando os dias me partirem,
Cola-me com o teu abraço.

sábado, 18 de outubro de 2014

Inteiramente




Deixa-me nos teus olhos mergulhar.
Ocupar-te inteiramente o pensamento,
Ser dos teus sonhos único alimento,
De todas as manhãs teu acordar.
Vamos fazer que o tempo volte atrás,
Recomeçar nascendo de mãos dadas,
Fazer do nosso amor um capataz,
Roubarmos para nós as madrugadas.
Faz comigo os caminhos que nos levem,
Aos quentes primeiros beijos que nós demos,
Beber onde somente teus lábios bebem,
O nosso amor ser tudo o que comemos.
Quero ser passado em ti, boa lembrança,
O príncipe encantado de criança,
Salão para os teus passos de dança,
Tudo o que só nos sonhos se alcança.
Deixa-se ser o ar que tu respiras,
O sangue que percorre tuas veias,
Sentir o teu suor quando transpiras,
A minha vida e tua ser a meias.
Quero ver o teu corpo eriçado,
Quando te toca lento o meu olhar,
Ser porto de regresso ao acordar,
Ser leito com teu corpo partilhado.
Quero ser presente temporal e permamente,
Tudo o que és que o sejas para mim,
Ficar contigo, sempre, eternamente,
Acompanhar-te, lado a lado, até ao fim.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Suicídio




Rezei mil vezes à morte,
Mas a vida foi mais forte,
Ou então não tive sorte!

Era assim mesmo que queria,
Não terminar mais um dia,
Que a luz do mundo apagasse,
Que tudo, enfim, acabasse.
Tive então a bela ideia
De beber um mata-rato,
Mas lembrei-me que era chato
Se só desse diarreia.
Pus uma corda ao pescoço,
Mas sem trave para apertar,
Tentei  jogar-me num poço
Mas já sabia nadar!

Rezei mil vezes à morte,
Mas a vida foi mais forte,
Ou então não tive sorte!

Pensei que tomar comprimidos
Seria a melhor solução,
Mas alguns eram compridos,
Outros não os tinha à mão.
Peguei então na pistola
E encostei-a à tola,
Para minha frustração
Faltava-me a munição!
A faca que quis usar
Só cortava uma tarte,
Mesmo para me matar
Sou inútil nessa arte.

Rezei mil vezes à morte,
Mas a vida foi mais forte,
Ou então não tive sorte!

Diz-me tu se há maneiras
De morrer sem sofrimento,
Pois afogar-me em banheiras
Está longe do pensamento.
Diz-me tu se há algum modo,
Se há algo para beber,
Que me tire deste lodo,
Que me mate sem doer.
Diz-me tu, mas sê sincera,
Se vale a pena viver,
Pois és tu a minha fera,
És tu quem me fez sofrer.

Rezei mil vezes à morte,
Mas a vida foi mais forte,
Ou então não tive sorte!