terça-feira, 7 de outubro de 2008

Sentir de Corpo Inteiro



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Sinto os olhos marejados
Num sentir que me desgasta
Porque olhar-te não me basta,
Quero-te em todos os lados.
Sinto o cheiro do ciúme,
Odor, aroma ou essência,
A traição da ausência
Misturada em teu perfume.
Sinto o espaço que separa
O beijo da tua boca,
A lágrima que fica louca
Se o teu lábio não a apara.
Sinto uma dor na garganta
Como um colar apertado,
Nó que me deixa engasgado
Se a tua voz não me canta.
Sinto os meus braços vazios,
Quando envoltos só em mim,
A solidão sem ter fim
Numa ilha sem navios.
Sinto o meu peito gelado
Sem ter o teu para encosto,
O sabor acre a desgosto
Por não te ter a meu lado.
Sinto as mãos encarquilhadas
Pelo frio que provocas
Cada vez que não me tocas,
De ti estão separadas.
Sinto no ventre a agonia
Dos dias longe de ti,
A dor de não te ter aqui
Só para me dar alegria.
Sinto a dor da excitação
Quando me abraço contigo,
Sinto-te como um castigo
Sem me dares a absolvição.
Sinto as pernas entorpecidas,
Por não saberem andar
Sem ter as tuas por par…
Cansadas, param, vencidas.
Sinto os joelhos tremer
Como da primeira vez
Que o dia em luz se desfez.
Sinto nunca te ter…
Sinto nos pés as dores,
Que em todo o corpo transporto,
Mas dessas dores não me importo
Se te seguir onde fores.
Sinto-me sempre enganado,
Quando em ti eu não me leio,
Chego até a ter receio
De ser eu o teu amado.

Christian de La Salette