quinta-feira, 19 de maio de 2016

Imperdoável




Já é tarde quando chegas,
Nem sabes por onde andaste,
Trazes no hálito a noite;
Dás-me ciúme e açoite,
Fazes de mim o teu traste.
Já é tarde quando chegas.
Quisera que não viesses;
Bebes tanto que até negas
Viveres a vida aos esses.
Novo dia, velho dia,
Desculpas de cordeirinho,
Prometes não repetir,
Da bebida vais fugir,
A tua culpa é do vinho.
Já é tarde quando chegas.
Quisera que não viesses;
Bebes tanto que até negas
Viveres a vida aos esses.
Uso bases, uso cremes,
Disfarço as nódoas com calma.
Desculpo-te as contusões,
Só não esqueço as lesões
Que me fizeste na alma.
Já é tarde quando chegas.
Quisera que não viesses;
Bebes tanto que até negas
Viveres a vida aos esses.
Não tenho para onde ir.
A bebida tudo leva.
Mesmo que queira fugir
Tenho medo de cair
No meio de tanta treva.
Quem me acode, quem socorre,
Quem me tira do sufoco?
Vivo tão amargurada,
Sinto-me tão abandonada
Na dependência de um louco.
Quero morrer pouco a pouco.
Mata-me de uma assentada.
Não me importas em nada,
Já nem sinto a bofetada
Nem ouço teu grito rouco.
Já é tarde quando chegas.
Quisera que não viesses;
Tuas casas são adegas,
Tomara que nelas morresses.

terça-feira, 3 de maio de 2016

Absorção


Absorves-me a identidade,

Tiras-me toda a essência,

Fico ausente da vontade,

Não me tenho consciência.

Deixo de saber quem sou,

Perco a minha personalidade,

P'ra onde vais é p'ra onde vou

Já não tenho intimidade.

Absorves-me no teu mundo,

Embrenhas-me nos teus segredos,

Torno-me vazio e sem fundo

Fico só com os meus medos.

Já nada faço sem ti.

Em nada existo sem quereres.

Só cá estou se estás aqui,

Só regresso se quiseres.

Mas não quero liberdade,

Só preso a ti é que vivo,

E a mais pura verdade


Só ser feliz se te sirvo.