segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Desabafo




Entraste-me sorrateira,
Instalaste-te em mim,
Ocupas-me de tal maneira
Que só sei ser eu assim.
Não há esforço que faça,
Ou milésima tentativa,
Que a tua presença desfaça,
Que ela não seja tão viva.
Quantas vezes?
Quantos dias?
Quantas horas mais vais ser
Esta dor que me domina?
Pertencer-te sem te ter?
Já me perdi de mim mesmo,
Não me encontro onde hei de estar,
Onde estás? Tu não me dizes?
Escondes-te em que lugar?
Devolve-me a existência,
Quero tornar a viver,
Livrar-me da tua essência
Sem p’ra tal ter de morrer.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Nada mais importa




Nada mais importa!
Sofrem as dores inexistentes
Temendo algum dia existir,
Antecipam o amargo sofrimento,
Antes mesmo de saber se hão de vir,
Antes mesmo de chegado o momento.
Que importa o que não há?
Saudades do futuro que ficou no passado,
Desgosto por o tempo não ter parado,
Tentar agarrar o que as lágrimas largaram,
Sonhos desfeitos que só magoaram.
Virão, um dia, os cavaleiros
Montados na negrura do desespero,
Tudo levar, como ceifeiros,
Nada ficando para provar que existimos.
Será que existimos?
Nunca fomos mais que realidade fugaz,
Uma realidade que não foi capaz,
De nos segurar pendentes nos segundos
Breves, em que juntou os nossos mundos.
Nada mais importa!
Resta-nos tentar a felicidade
Que se constrói com pequenos sofrimentos,
Ocultando em nós os nós, que com a idade,
Se vão atando à volta dos lamentos.