Calo-me ao teu silêncio
Calo-me ao teu
silêncio que me diz tudo o que não quero ouvir e em mim nascem outros silêncios
que me dizem o que quero que sintas. Olhas-me com o mesmo desinteresse com que
passas os teus dias uns atrás dos outros; uma sequência de existir sem
questionar o sentido de ser ou os sacrifícios que tens de fazer para que eles
não se interrompam. Deixas-le levar. Perdes a paixão nalgum sítio ondes não a
encontras como quem perde as coisas que não são usadas e das quais só nos
lembramos delas de tempos a tempos e apenas as mudamos de lugar. Talvez sejam
um estorvo. Estamos tão habituados a ver a utilidade das coisas que esquecemos
a sua magia, aquilo que as torna diferentes das outras. Não há paixões iguais,
apenas palavras iguais para dizermos coisas que não entendemos ou que não
conseguimos exprimir por palavras o que nos fazem sentir. Eu não sou capaz de
arranjar um sinónimo de palavras que expliquem o prazer de um beijo teu, de
experimentar o toque da tua pele, de transmitir o frémito que me percorre de
cada vez que te imagino entregue à minha paixão. E por isso me calo! O teu
corpo é silêncio. No teu olhar há silêncio. Continuo a amar-te apesar disso.
Continuo a esperar-te apesar disso. Continuo... A nossa vida é uma sucessão de
continuidades; um dia continua o outro; um sacrifício continua outro. Alegrias
também são continuidades; as pequenas e as grandes. Só a paixão é pausa, um
intervalo que o tempo nos dá para que possamos regressar às rotinas das
continuidades, revigorados na ilusão de que a pausa é o tempo inteiro.
Onde é que
fiquei na tua vida? Onde é que estou? Onde me guardas tu?
Ainda te sou
útil?
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