quinta-feira, 14 de junho de 2007

Ciúme


Nascem em mim sentimentos negativos,
Ódios, invejas, desespero e sofrimento,
Nascem-me desejos imperativos
De te amar sem o teu consentimento.
Arde um fogo imenso no meu peito,
Alastra-se uma dor intensa de ciúmes,
Saber que outro dorme no teu leito,
Respira sem pudor os teus perfumes.
Dói-me saber-te tocada por outros dedos
Beijada por outros lábios indecentes,
Mas o maior de todos os meus medos
É que os teus olhos se fechem de contentes.
Dói-me essa traição legitimada,
Por mero compromisso anelar,
Mesmo que ele te represente nada,
Tem sempre o privilégio de te amar.
Dói-me esta angústia dos momentos
Em que te imagino nua a seu lado,
Teu corpo, gemidos e lamentos
A ele se entregando sem pecado.
Dói-me não te ter só para mim,
Magoa-me a inveja de seres dele,
Do seu desamor e mesmo assim,
Deixares que te toque a tua pele.
Doem-me os fluidos que partilhas,
Essa tua entrega/rendição total,
Dói-me não serem minhas as tuas filhas,
Sacrificares-te por dever matrimonial.
Nascem em mim sentimentos negativos,
Ódios, invejas, desespero e sofrimento,
Nascem-me desejos imperativos
De te amar sem o teu consentimento.
Dói-me não te ter ao anoitecer,
Quando as luzes do dia se extinguem,
Dizendo-me querendo receber,
A semente que carrega a minha origem.
Dói-me não te ter de madrugada,
Deitada a meu lado adormecida,
Amante satisfeita e regalada,
Fera domesticada e rendida.
Dói-me este destino tão irónico,
Que cruel me destrói e me definha,
Por ter somente teu amor platónico
Possuir-te sem nunca seres minha.

Christian de La Sallette

Sem comentários: