terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Ode aos Arrumadores

Levanta-te ó indigente
Vem assistir à parada,
Dos que vão para o emprego
Enquanto tu fazes nada.
Venham também os drogados
Homófilos e os chanfrados,
Arrumem as viaturas
Dessas pobres criaturas
Que marcham para o trabalho,
E se algum se armar em esperto,
Quando já não estiver perto,
Um risco na chaparia
E já ganharam o dia.
Tratem todos por doutores,
Engenheiros, professores,
Aliviem-lhes as dores
De andarem com trocados,
Pois esse tal vil metal
A eles faz muito mal.
Porque há-de tal gentinha
Ter direito a um lugar
Para o carro estacionar
Só por ele estar vago?
Tem de dar contribuição
A quem lhe dá indicação
Mesmo que o lugar seja pago.
Não se importem com comida,
Pois se a fome apertar
Há sempre quem vos convida
Para o Banco Alimentar.
Porque hão-de ter trabalho,
Gastar no pão e no talho,
Se o vinho é mais barato
E o cigarro um bom prato?
Há coisa melhor na vida
Que fumar ganzas maradas,
Injectar doses danadas
Como se fossem comida?
Cata sempre a moedinha
Para o pão e p’ró sumito,
De certeza que não sabem
Que é p’ró cigarro e copito!
Se o dinheiro não chega,
Tem muita calma e sossega,
Auto-rádio apetrechado
Fanado num enlatado,
Há-de render alguns cobres
Vendido àqueles pobres,
Que tiveram azar um dia
De parar a lataria
No parque de estacionamento,
Vosso local de passeio,
Ou até divertimento.
Nada de trabalhar,
Tende muita paciência,
Que p’ra carros estacionar
É preciso uma licença.

Christian de La Salette

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