sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Paixão

Paixão é um mar que nos invade,

Que alaga todo o espaço interior,

Trovoada que desperta a madrugada,

Relâmpago que fulmina o alvor.

É tempestade que perturba a calma,

Frémito que nos percorre totalmente,

Terramoto que nos sacode a alma,

Loucura que se espalha pela mente.

É um sentir que vem de enxurrada,

Como cavalos correndo em tropel,

Excitação permanente e desenfreada,

É viver num permanente carrossel.

Paixão é um barco à deriva,

Permanente conquistar o Bojador,

É jangada solta em maré-viva,

Ondas que rebentam com fragor.

É um sorriso quente ao acordar,

Trémulos desejos descontrolados,

É um perder-se e nunca se encontrar,

Em trilhos de aventura não marcados.

É necessidade nunca saciada,

Riso e choro em perpétuo vaivém,

Dar-se recebendo quase nada,

Um possuir egoísta de alguém.

É semente estéril em terra árida,

Tentando a todo o custo germinar,

Beijo plantado em boca ávida,

Sentir que não se pode cultivar.

Paixão é um olhar embevecido

No rosto cintilante de outro ser,

Viver permanentemente esquecido,

Levar com um feitiço sem saber.

É um sorriso lento ao acordar,

Lânguido despertar no amanhecer,

Brincar com nuvens, no céu pairar,

Um pôr-do-sol a dois ao entardecer.

É um latir pedindo-nos carinho,

Colo que aquece e nos conforta,

Abraço que se dá e tão mansinho,

Que o resto para nós já pouco importa.

Christian de La Salette

1 comentário:

Anónimo disse...

Paixão...
Quem não conhece este sentimento não sabe o que é a felicidade e a tristeza a viverem lado a lado, a misturarem-se, o rosto a encher-se de alegria e de repente a brotarem as lágrimas dos nossos olhos...
Ler este poema e ouvir esta música é realmente algo que faz arrepiar...