quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Rejeição


Deixa-me sofrer sossegado,
Não voltes p’ra mim teu olhar,
Deixa-me morrer descansado
Quero sozinho ficar.
Já não há sinos tocando,
Primaveras a desabrochar,
Já não há campos verdejando
Nem sementes para plantar.
Saio de ti sem destino
Rumando por vaguear,
Vou procurar um caminho
Que me leve deste lugar.
Gritas e choras mentiras,
Pedes-me para eu ficar
Dás-me a saudade que tiras,
Onde eu a fui enterrar.
Deixa-me sair daqui,
Debaixo da tua influência,
Deixa-me nalguma estrada
Pintada com a tua ausência,
Larga-me nalgum baldio,
Que não saibas a direcção,
Larga-me num sítio vazio,
Onde não haja coração.
Quero ser livre sem sonhos,
Quero não mais querer,
Gastar todos os meus dias
Tentando-te esquecer.

Quero um novo horizonte
Sem ver o teu pôr-do-sol,
Quero beber noutra fonte,
Esconder-me noutro monte,
Rumar ao desconhecido,
Sentir que tudo mudou,
Deixar de me sentir vencido
Por quem nunca me amou.

Quero viver e morrer,
Rir e chorar de prazer,
Fingir que nunca exististe;
Quero novas ilusões,
Preencher com outras paixões
Os bocados de mim que partiste.

Deixa morrer sossegada
A paixão que rejeitaste,
Dá-lhe espaço, dá-lhe ar,
Não a prendas para nada,
Deixa-a vogar à deriva,
Perder-se nesse oceano
De lágrimas cheias de sal,
Ou então ter outro engano,
Padecer do mesmo mal
Em alguém que a queira viva.

Christian de La Salette

Sem comentários: