quarta-feira, 5 de março de 2008

Amargura

Sei a cor da escuridão,
Sei-o pois nela vivo.
Sei o som da solidão,
Sei o que é andar perdido.
Quem não ouve as minhas preces,
Nem mesmo me mete nas suas,
Tem um coração de pedra,
Não chora nem um gemido.
É fera sem sentimentos,
Os outros são-lhe jumentos,
Bestas de carga falidas
Das suas dores mal paridas.
Quem não me limpa o suor,
Que dos olhos cai sem esforço,
É vil, cruel, é autora
Do lado negro das vidas.
Quem me fere com o desprezo
Que do seu antro desprende,
É víbora cheia de fel,
Madrasta de toda a serpente.
É Cassandra, é Pandora,
Dalila, Helena, Perséfone,
É maldição mitológica,
Vaga de dor imponente.
É bandido mascarado,
Roubando-me os sentimentos,
Hidra regenerada,
A Hera que lhe deu vida.
Quem não me quer não se importa,
Se vivo, se morto eu ando,
Quem me rejeita transporta
A arma do meu homicida.
Procura formas de morte
Das mais dolores, cruéis,
Tortura-me com mil chicotes,
Feitos com os seus anéis,
Bate-me sem piedade,
Não dá tréguas nem dá água,
Só procura variedade
Nas outras formas da mágoa.

Quem não me ama não chora
As lágrimas que tu me deitas,
Quem não me ama ignora
Do que essas lágrimas são feitas!


Christian de La Salette

1 comentário:

Anónimo disse...

não estejas tão amrgo...
a realidade não é bem assim....