quinta-feira, 6 de março de 2008

Nau tristonha

Ando à deriva num barco sem leme nem mastro. Embato nos escolhos deste mar poluído em que se transformou a corrente dos dias. Acordo já naufragado...
Tentei tirar de mim a carga que afunda o meu navio. É impossível!... É impossível!... É impossível!...
Rezei a todos os anjos, pai-nossos, avé-marias; chorei no banco da igreja onde me prometi um dia todo a ela totalmente. Pedi ajuda divina para não ficar demente.
Passeei-me, vagueando, por entre as vagas da vida... Não há porto nem abrigo, não há mar nem oceano, que aliviem este castigo, que me levem ao desengano. Não há nada que me brilhe a luz que me guie neste remar tão insano, contra a maré da loucura, contra os ventos do martírio, não há farol que me guie...
Navego sempre às escuras, tacteando a escuridão, navego às apalpadelas no muro da solidão, nessa parede sem portas, nesse lugar sem saída das trévoas da gente morta, das névoas e neblinas.
Naufrago todas as noites um naufrágio repetido desfeito em sal nos meus olhos. Não vejo doca nem cais, molhe para os meus ais, não vejo p'ra lá de mim... Dia a dia é sempre assim.
Rasgam-me os meus costados sentimentos icebergues, afundo-me num mar gelado sem encontrar os albergues das dores que em mim transporto; tantas dores que não suporto!...
Perdi o rumo da vida, a rota da alegria. Navego sem mastro nem leme. Hei-de morrer algum dia!...

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