terça-feira, 18 de março de 2008

Omnipresença


Tornam-se pesarosos os meus dias com a tua ausência física. Apenas física porque a tua presença é constante, em todas as horas, em todas as minhas acções, em todos os meus pensamentos. Quanto mais tento apagar-te mais forte é a tua presença em mim. Tento...

Falham-me as ideias cada vez que as tento desviar de ti, ocupam os meus braços as lembranças do teu corpo neles, cada sombra do vento na minha vida é um reflexo da tua imagem, em cada ondular dos meus sonhos tu estás presente! Tornaste-te omnipresente em tudo o que me pertencia, em toda a minha intimidade, mesmo na que partilho com outra, com outros. Cada gesto teu é projectado no gesto dos que vivem comigo, cada relato do seu quotidiano é uma pergunta sem resposta sobre como é o teu dia, como foi, como correu. Interrogo-me se saboreias esta minha dependência, se te dá prazer saber que estou viciado em ti, que jamais conseguirei esquecer-te.

Se eu não te amasse tanto assim!...

Se eu não dependesse tanto das minhas recordações dos breves momentos que partilhámos...

Se eu não estivesse tão obcecado por ti!...

Lembras-me um barco que se afasta no mar da minha vida deixando-me isolado na ilha dos dias costumeiros, perdido todo o encanto do paraíso inicial. Levas contigo toda a minha remota possibilidade de salvação tornando-me definitivamente náufrago, à mercê da tua vontade de regressar um dia. Só que não regressarás e não há mais ninguém que saiba a rota que vai dar a esta ilha. Abandonaste-me porque te rejeitei. Rejeitei-te porque não me quiseste. É um jogo do querer e não querer que se torna no jogo diário que jogamos os dois.

Pensava que seria difícil dizer a quem amava que estava apaixonado por ti. Não sabia era que isso era o mais fácil! Difícil é ter de viver com quem amo e rejeitar quem desejo sabendo que quem amo não admite que te deseje. Difícil é desejar-te em quem amo sabendo que nunca estarás no lugar que eu quero; que serás sempre um vazio imaginado no meu leito, que eu estarei vazio em toda a minha entrega a quem amo. Eu já não me entrego. Apenas me abandono. Não é a minha vontade que se entrega, é o meu dever. Não é o meu desejo que se entrega, é a minha obrigação. Não é o meu corpo que se entrega mas sim o corpo que tu rejeitaste... Esvazio-me completamente nessas entregas. A minha alma viaja externamente, os meus olhos fecham-se embora continuem abertos em pensamentos. Sou mais infiel agora do que antes de lhe contar da tua existência, pois agora estás presente até nos gestos dela, nas atenções dela, no carinho dela, nas carícias dela, no conhecimento dela...

Respiro-te em cada movimento dos meus pulmões. Inalo-te em cada lufada de ar que entra em mim.

E para quê?...

2 comentários:

Anónimo disse...

Desejar não é amar?
Amar sem desejar...não faz sentido!
Se fosse suficiente amar só em pensamento, nós nos completavamos

Anónimo disse...

A omnipresença é inquietante traz desassossego e incentiva a procura.
A vida é feita de escolhas, sempre que escolhemos uma coisa, deixamos outra, mas há sentimentos e momentos que apesar das escolhas, porque são imaterializais, permanecerão para toda a vida e na eternidade.