terça-feira, 11 de março de 2008

Desencontros

Nem sabes C. como te entendo na tua dor. Essa dor que nasce por vermos outra pessoa nos olhos de quem se ama, esse baque que nos atinge e nos derruba e a certeza de que ao abrirmos os braços encontraremos um vazio entre eles. Foi assim comigo durante anos cada vez que te olhava, cada vez que não me via nos teus olhos, cada vez que te negavas a olhar para mim, deitando-me apenas olhares fugazes para que eu não te fugisse. Aos poucos a memória do meu coração foi-se fechando, a dor foi-se tornando suportável, a razão foi ocupando o espaço vazio que tu deixavas nos meus dias. Novos dias vieram...
Novos amores?
Não sei se o passado se foi esquecendo de me atormentar no presente ou se o destino pretende pregar-me uma partida ainda mais cruel. Como viver entre quem se ama e quem nos quer? Sobretudo quando amamos quem não nos quer? Como rejeitar uma amizade porque nos magoa ou aceitar uma outra porque se acomoda no nosso coração, porque substitui a ausência do amor de outro?
Sei o que é viver no limbo dos sentimentos, no purgatório das emoções mais contraditórias. Amar e ser amado! Parece simples, não parece? Mas é um verbo que necessita ser conjugado pelas mesmas pessoas para se tornar simplificado. Amar quem não nos ama imuniza-nos à dor dos que sofrem o mesmo por nós. Ser amado por quem não queremos, martiriza-nos a consciência pela rejeição que não temos coragem de assumir. Prendemo-los a nós para nos aliviarem o sofrimento que sentimos pela ausência do amor de outro, aquele que queremos verdadeiramente, no momento. Só que essa prisão às vezes também nos prende a nós e só damos conta disso quando já é demasiado tarde, quando tivermos deixado escapar a oportunidade de conjugar o verbo na sua simplicidade: amar e ser amado!
Eu vi o baque nos teus olhos. Vi a tua dor no desprezo com que me falaste: “Há tempo suficiente!...” Tempo suficiente para sentir o turbilhão das emoções invadirem a nossa vontade, para o desespero tomar conta de nós, para afinal descobrir o que era óbvio e não permitimos que se soltasse de nós por condicionamentos morais. Contra os princípios...
Dói!...
É uma dor alucinante que embota os sentidos, a razão, o discernimento; que nos torna mortos-vivos no vaguear dos dias, ausentes da nossa realidade. Uma dor que nos comanda irracionalmente e nos faz desejar terminá-la, a qualquer preço, de qualquer forma... É uma dor que vai germinando e tornando-se cada vez mais forte, que nos domina ao ponto do inconcebível. É uma dor que nos dá vontade de inexistir...
Quem amo eu, afinal?
Quem me ama, afinal?
Rejeitar quem nos ama, amar quem nos rejeita! O destino é um diabrete travesso que vai brincando com os corações dos incautos que se atravessam nos seus domínios, indiferente às feridas que se abrem, às lágrimas que se perdem...

Christian de La Salette

1 comentário:

Anónimo disse...

o Amor duradoiro, verdadeiro, é aquele que é colocado à disposição,sem exigir nada em troca, sobretudo qdo as vidas têm caminhos díspares mas que, de vez em quando, se encontram para matar saudades de um futuro que não existe. Isto é egoismo? Não. É uma sensação quente e confortável. Necessária para quem não pode oferecer nem ter mais nada.