quarta-feira, 12 de março de 2008

Horizontes

Levantam-se os horizontes já cansados,
As velas não se enfunam, não há ventos,
Navegam em naus de quatro rodas,
Em estradas de agonias e tormentos.
Acostam em lúgubres ancoradouros,
Cais de rotineira perdição,
Atracam-se a futuros não vindouros,
Largam as amarras da paixão.
Procuram novos rumos em velhas rotas,
Em ondas feitas do seu próprio sal,
Sulcam vagas bravas e revoltas,
Procuram com afinco outro portal,
Que os transporte além desta realidade,
Em caminhos do espaço sideral,
Em íntimos escondidos da verdade,
Em ilhas que se ocultam do real.
Cansam-se os horizontes em procuras,
Tentando vislumbrar quotidianos,
Linhas que demarquem oceanos,
Alívios para os males e novas curas.
Gemem suas mágoas, desenganos,
Embriagam-se nas dores que os atormentam,
Prostram-se cansados pelos anos,
Em catres, nos pesares, que eles inventam.
Já se esqueceram da cor do pôr-do-sol,
Dos raios de ouro ao entardecer,
Do próprio Sol deitando-se no seu leito,
Dos dias calmos e serenos a adormecer.
Repetem as suas cores todos os dias,
Vivem em aborrecimento permanente,
Perderam totalmente as ousadias,
Arrastam-se no passado já ausente.
Já não querem mais ser horizontes,
Ser fim do mar perdeu todo o encanto,
Deitam-se novamente ao fim do dia,
Para que a noite os cubra com o seu manto.

Christian de La Salette

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